Meu legado
Carolina Maria de Jesus
Filha
de mãe solteira, Carolina Maria de Jesus, nasceu na cidade de Sacramento,
estado de Minas Gerais, no dia 14 de Março de 1914. Por se filha ilegítima,
como era considerada a criança filha de um homem casado, a pequena Carolina não
teve uma vida fácil. Aos sete anos de idade foi obrigada pela mãe a frequentar
uma escola, que era custeada pela esposa de um rico fazendeiro, entretanto, só
a frequentou até o segundo ano, tendo apenas aprendido a ler e escrever.
Aos 23
anos de idade, sua mãe veio a falecer, o que a fez decidir migrar para a
capital Paulista, toda via, a mudança só aconteceu no ano de 1947, dez anos
após a morte de sua mãe e momento em que as favelas começavam a nascer nas
grandes metrópoles.
Foi
na favela de Canindé que a escritora deu início a sua vida na nova cidade. Logo
depois conseguiu emprego na casa do médico Euryclides Zerbini, precursor da
cirurgia do coração no Brasil e que a deixava usufruir de sua biblioteca.
De
personalidade forte, pulava de emprego em emprego, até engravidar de seu
primeiro filho, João José, em 1948. Logo depois vieram José Carlos e Vera
Eunice, cada um de um pai diferente.
Solteira
e com três filhos, começou a catar papel para sustentar a família. Toda a noite
saía em busca de reciclados e foi através desse ofício que descobriu a
possibilidade de escrever. Quando encontrava revistas e cadernos antigos,
Carolina os guardava para escrever em suas folhas. Começou a escrever contos,
poesias, romances, sobre seu dia-a-dia, sobre como era morar na favela, sobre
seus vizinhos... Provocando assim o descontentamento deles, que se sentiam
invadidos e ameaçados quando ela lhes dizia que estava escrevendo um livro e
que os colocaria nele.
Em
uma dessas confusões já consideradas corriqueiras, seu caminho se cruzou com o
do Jornalista Audálio Dantas, que a descobriu como escritora. Ao ouvir que
Carolina estava escrevendo um livro, Audálio sentiu-se instigado em saber do
que se tratava o livro que ela dizia ter feito.
Dentre
todos os cadernos que tinha em suas mãos, o jornalista não se conteve diante do
que falava sobre o cotidiano da favela, segundo ele, o texto tinha uma forma de
narrar próximo à poesia e era tão forte que não poderia ser escrito por
qualquer escritor, apenas por quem tivesse vivido a situação.
Empolgado,
Audálio que trabalhava na extinta "Folha da Noite", correu para a
redação do jornal e publicou alguns trechos dos textos que tinha visto. A
edição da “Folha da Noite” de 09 de Maio de 1958 repercutiu em várias
publicações do país e dois anos depois, era lançado o primeiro livro da
escritora, “Quarto de Despejo”, que retratava a vida na favela que segundo ela,
“Era o quarto de despejo de uma cidade, onde os pobres eram os trastes
velhos".
A
primeira edição de "Quarto de Despejo" saiu com trinta mil
exemplares, foi reimpressa sete vezes em 1960, traduzida em 14 línguas em 20
países e no total vendeu 80 mil exemplares.
Carolina
de Jesus lançou mais três livros: "Pedaços de Fome", "Casa de
Alvenaria" (que retratava sua mudança da favela para uma casa de
alvenaria, no bairro de Santana) e "Provérbios". Postamente, em 1982,
foi lançado na França "Diário de Bitita", que chegou ao Brasil pela
Editora Nova Fronteira em 1986.
Maria
Carolina faleceu em São Paulo no dia 13 de Fevereiro de 1977, aos 63 anos de
idade, deixando um legado de força e resistência.
Fontes:
Folha de São Paulo, Museu afro brasileiro, jornal O globo.
Por Luciana Faustine
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